Belo João das Ruas: O flâneur e o voyeur dos encantos do Rio e Lisboa
Belo João das Ruas:
O flâneur e o voyeur dos encantos do Rio e Lisboa
E Deus quiz, na sua infinita Bondade, que eu vivesse um pouco da minha vida febril de degenerado Homem da Cidade em pleno campo portuguez, visitando o Doiro,visitando o Minho, visitando a delicia da Beira até o limite de Hespanha.
João Paulo Alberto Coelho Barreto, ou apenas Paulo Barreto, foi o jornalista, cronista, dramaturgo, segundo ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, dentre muitos outros títulos, imortalizado sob o pseudônimo de João do Rio. O pseudônimo João do Rio, nasce, por sua vez, em 26 de novembro de 1904, inspirado pelo jornalista francês do Le Figaro, Napoléon-Adrian Marx (1837-1906) que assinava as suas reportagens como Jean de Paris. O pseudônimo, sugestivo pois personifica a própria cidade que narrava, terá tamanha repercussão, que todas as obras do autor publicadas após 1904 serão assinadas por João do Rio e não Paulo Barreto. Sua vasta produção conta ainda com muitos escritos esparsos em jornais e revistas da época, sob diversos pseudônimos .
Paulo Barreto revolucionou a forma de se fazer jornalismo no Brasil. Precursor do jornalismo investigativo, adaptou o estilo europeu ao cosmopolitismo carioca e à sua intensa flanêrie. Enquanto seus contemporâneos sentavam-se e escreviam as notícias de dentro das estanques paredes dos escritórios de jornais, Paulo Barreto buscava a notícia na rua, sendo conhecido e admirado pelas camadas mais marginais da sociedade.
A flanêrie de João do Rio não é só um modo de fazer artístico, mas também uma condição para a sua escrita jornalística, uma prática de buscar, na rua, não só a observação dos paradoxos da belle époque carioca, mas um meio de reverter sua prática jornalística em profissão rentável. Quando juntamos a prática de deambular com um olhar crítico, severo e apaixonado – que aqui chamaremos de voyeurismo – temos a construção literária-jornalística tão característica do autor.
O flâneur e o voyeur se manifestam no mesmo escritor, mas configuram maneiras distintas de abordar a cidade: o olhar familiarizado, cotidiano, partícipe e o olhar estrangeiro, do outro, do distanciamento. O voyeur João do Rio observa intensa e apaixonadamente a cidade e tudo que a ela é computado. O gozo, aqui, não é o físico, sexual, mas o existencial e mesmo espiritual, que vem a partir da descrição única oferecida nas obras literárias e jornalísticas de João do Rio. Lêdo Ivo estabelece tal distinção:
Espreitava os homens e as coisas com olhos de espectador. Parado, era um voyeur, atento às graças, vícios e escabrosidades humanas. Andando, era um flâneur quase baudelairiano. Cabe-lhe a glória de ter sido o primeiro a introduzir na nossa língua o verbo flanar.
(IVO, Lêdo. João do Rio: cadeira 26, ocupante 2. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012. p.10.)
João do Rio morreu como viveu: na rua. Seus exageros de consumo e o estilo de vida intenso resultaram numa parada cardíaca em um táxi. Querido pelas mais diversas camadas sociais da cidade, a comoção por sua morte foi tamanha que reuniu 100.000 pessoas (por volta de 10% da população da cidade à época) num cortejo fúnebre que ocupou o centro da cidade. Pouco menos de dois meses após a morte de João do Rio, sua mãe escreveu uma carta para a direção do Real Gabinete Português de Leitura, doando a biblioteca do escritor. A catalogação dos mais de 4.000 volumes ficou a cargo do Dr. Alexandre de Albuquerque. João do Rio foi sepultado no cemitério São João Batista, em Botafogo, em uma tumba em bronze, considerada uma das mais belas obras de arte funerárias do Rio de Janeiro.
Túmulo de João do Rio , no cemitério São João Batista, em Botafogo.
Foto de José Roitberg
A partir de 1907, João do Rio tomou para si a defesa da colônia portuguesa de pescadores da cidade, os chamados poveiros. Os estatutos e regimentos legais proibiam que estrangeiros pescassem na costa brasileira, a não ser que se naturalizassem. As proibições e perseguições aos comerciantes portugueses, os altos impostos a eles atribuídos, foram apenas alguns dos desdobramentos consequentes ainda da proclamação da república: vivia-se um momento de afirmação e busca por uma chamada identidade nacional que se construía, sobremaneira, no repúdio e apagamento de quaisquer reminiscências da colonização portuguesa.
Em seus textos jornalísticos para a Gazeta de Notícias, João do Rio promulgava não apenas o ensejo de uma aproximação cultural entre os dois países, mas vislumbrava a possibilidade de se estabelecerem colaborações econômicas, tratados comerciais que beneficiassem Brasil e Portugal igualitariamente. Tais textos tornaram-no mal quisto por parte da sociedade conservadora e nacionalista, mas promoveram o contato com alguns jornalistas e editores lusitanos. A aproximação com literatos portugueses será aprofundada na viagem para Portugal e registrada no livro Portugal d’agora.
Portugal d’agora é formado por reportagens, publicadas no jornal Gazeta de Notícias, acrescidas de introdução atualizadora, já que da época da primeira viagem até o lançamento, a efervescência política em Portugal havia adicionado mudanças basilares para o leitor brasileiro e para o leitor português no Brasil. A obra é dedicada também a João de Barros , demonstrando a importância dada pelo autor à interação tida com estes em terras portuguesas. Sua ligação com Portugal, especialmente Lisboa, é também explorada em Fados, canções e dansas de Portugal, de 1909, no capítulo introdutório “A razão deste livro”.
Antes mesmo de desembarcar, o encanto de João do Rio ao encontrar a terra e a cultura que conhecia apenas dos livros já se destaca e se apresenta na escrita. Em seu planejamento, João do Rio não esperava passar tanto tempo em Portugal. Dedicaria a maior parte de sua visita para a estadia em Paris. Contudo, os encantos lisboetas o atraíram de tal forma que não conseguira manter-se fiel ao planejado:
Como era bello o que viam os olhos meus! Que belleza! E entretanto, nada de extraordinario: a casaria como a da minha terra, preguiçando da lombada dos montes até junto à agua do rio, as torres das igrejas sem nada espantoso, agua, céo, paisagem. Mas nisso um amplexo terno e longo, nisso um brando abraço intimo, nisso tanta bondade esparsa, tanta suavidade que o coração se sentia bater mais forte, sem saber porque
Esse sentimento de aproximação profunda com Portugal se repetirá logo a seguir, quando o autor percebe-se diante do ascender do dia no rio Tejo:
Diante da cidade a acordar, no Tejo largo e profundo, não era o pasmo que me acommettia, era o reconhecimento de me sentir ligado a uma raça valorosa e antiga, era a ideia de que eu mais não era senão o desdobramento de um ramo forte da humanidade, era o sonho talvez vago e fantasioso de que daquelle mesmo rio, defronte da torre pequena de Belém, um ascendente distante se arrojara ao mundo novo, deixando Lisboa.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p. 32-33.)
Panorâmica de Lisboa e Rio Tejo tirada do castelo de Almada, 1906. FONTE: Arquivo Municipal de Lisboa.
A conexão do autor com a terra é cultural. Após esse primeiro contato com a cidade e sua devida acomodação, João do Rio decide flanar por Lisboa. No trecho a seguir, podemos observar que a atitude de deambular acompanha o autor desde sua chegada e que esse início de visita é guiado por obras de autores clássicos da Literatura portuguesa:
O dia continuava lindo, e depois de um almoço formidável, de vagar e tranquillo, resolvera andar sem direção apenas com o vago desejo de reencontrar sitios celebrados em leituras. Lisboa não muda com rapidez e os seus dous guias literarios são ainda agora Eça de Queiroz e Fialho d’Almeida, para o primeiro momento e o reconhecimento.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p.41.)
As descrições intensas, com enumerações e adjetivações profusas, expõem uma observação crítica competente que é aliada à flânerie no fazer jornalístico do autor, como podemos ver em seu comentário sobre a população no Rossio:
No Rocio, sob a altissima complacencia da estatua de D. Pedro IV e em de redor das fontes cascateantes não havia banco desocupado. Era a vermina humana a descansar. Alguns dormiam, ou davam uma volta e voltavam ao banco como à casa.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p. 43.)
Largo do Rossio, fotografia de Paulo Guedes, anterior a 1919. FONTE: Arquivo Municipal de Lisboa.
O centro da cidade contrasta, contudo, com figuras clássicas e espaços históricos de Portugal, como podemos observar na visita de João do Rio ao Mosteiro de Santa Maria de Belém (Mosteiro dos Jeronymos). O sentimento exposto na descrição é oposto aquele visto na movimentação da cidade:
E, já preparados por desenhos e leituras, já fartos de conhecer no seu risco e nos seus primores, a joia colossal e magnifica aquelle interior na semi-sombra luminosa avivada pelos grandes olhos pallidos das rosaceas, deu-nos de repente uma impressão de esmagamento. Tres naves se succedem na éxtensão de quasi cem metros sobre vinte e cinco de largo. A vista ascende ao tecto da abobada lavrada em floreios e lançarias, treme arrima-se […] era a inteira historia de uma nação inteira. E a minha emoção era tão funda.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p. 46-47.)
Mosteiro dos Jerónimos, fotografia de Manuel Tavares, c.1914. FONTE: Arquivo Municipal de Lisboa.
A chegada à Lisboa e o primeiro contato com as ruas da cidade despertam um profundo sentimento de enternecimento em João do Rio, mas sua relação com a capital se torna ainda mais profunda com a estadia prolongada.
É possível perceber que o encanto inicial do autor não desvanece com o passar dos dias de sua viagem à Portugal. O reconhecimento dos espaços e o hábito aumentam a intimidade entre João do Rio e Lisboa, como pode ser observado mesmo na primeira página do livro Fados, canções e dansas de Portugal: “Havia tres dias que estava em Lisbôa. Lisbôa empolgava-me. Qualquer coisa de impalpável parecia prender-me, ligar-me aos poucos à cidade”.
Sua aproximação com a cidade é também observada na forma com a qual a trata. Ainda que, primeiramente, a aborde de forma mais tradicional, exaltando suas características mais taciturnas, elegantes e elevadas, em sequência, age comparando-a com uma mulher de comportamento mais atrevido, dando características esteriotípicas de capacidade de sedução e sagacidade. Os trechos são polêmicos, podendo ser considerados misóginos em determinado nível, como o próprio autor expõe:
As cidades são como as mulheres. Ou têm muitas almas, almas que variam e se contradizem, segundo os psychologos affirmam, ou não têm alma de especie alguma segundo disse um sabio mysogino. De qualquer forma, assim como é muito difficil ter a definitiva idéa do Ser em que resumimos a aspiração da vida, as cidades prendem como as mulheres e fazem-se amar como as mulheres.
(RIO, João do. Fados, canções e dansas de Portugal. Rio de Janeiro: Garnier, 1909, p.2.)
A comparação com mulheres busca impregnar na cidade especificidades tidas como femininas. O autor interpreta uma paixão pela cidade, como se essa femme fatale o tivesse encantado e fizesse dele, agora, seu amante:
Cada uma d’ellas tem uma qualidade predominante, mais para cada viajante um aspecto, porque cada uma dessas agglomerações de palacios e casas vive, pensa, tem um cerebro e um coração, soffre de moléstias mentaes ou physicas, e quando parece ter opiniões varias apresenta o seu temperamento e é bem um Ser na maneira de se fazer querida das pessoas que d’ella se approximam. […] e Lisboa exercia sobre mim, desde a chegada, a seducção.
(RIO, João do. Fados, canções e dansas de Portugal. Rio de Janeiro: Garnier, 1909, p.2.)
João do Rio chega mesmo a realizar um exercício de alteridade com a cidade, que conversa com o autor e se coloca como participante de modo direto no texto, como espaço e personagem:
Estava radiante com a observação. Lisboa, porém, sorria. Oh! essa cidade sorri no céu, nas ruas, em tudo! Lisboa sorria e parecia dizer:
— Vida a minha! Ha dentro d’ella o sol. Vem d’ahi ao Loreto ver as alfacinhas. São todas da côr da neve ou da côr da lua, e frágeis e gracís e de tal fórma delicadas que talvez te dê, toleirão! a vontade de colleccionar saxes do tempo de Luiz XVI, para por engano guardar algumas. Anda pelas ruas depois. Já encontraste uma cara que não tivesse dois olhos bonitos, dois olhos molhados de extase, molhados de amor, gratos à vida? Não! Artistas e esthetas graves já disseram que o homem de Portugal é o mais bello do mundo. E as mulheres, rapaz, quando não lembram Dante, Gabriel, Rossetti, lembram divinamente as figuras dos pintores do Renascimento. Tudo aqui é vida, é ardência, é paixão. E a paixão sae de dia, é a alegria — alegria nas egrejas, alegria na Boa-Hora, alegria nos regimentos, alegria nos garotos. Que horas tens? Duas da manhã.
(RIO, João do. Fados, canções e dansas de Portugal. Rio de Janeiro: Garnier, 1909, p.3.)
A cidade conversa, convence e encanta, como que convidando o autor a, nela, fazer seu passeio sem rumo, a alimentar-se de suas imagens e a gozar dos seus prazeres. Há simbiose entre o autor e a cidade, como é possível observar em sua relação com a sua terra natal. Pode-se considerar como uma contradição o tratamento erótico que o autor dá à cidade enquanto, ao mesmo tempo, a coloca em relação a épocas grandiosas e episódios elevados, como o padrão de beleza feminina renascentista. Contudo, há de se considerar que o autor tem um estilo de vida absolutamente dionisíaco e que a contradição é característica basilar da época na qual vivia, com construções de megalópoles cosmopolitas modernas nas quais ainda havia pessoas sem o mínimo para viver. O próprio momento político de Portugal figurava as contradições entre o absolutismo e a república como força motriz.
A flânerie de João do Rio não se limita à luz do dia. Escreveu Lêdo Ivo que “o viajante João do Rio sabia ver e observar” e que no livro o cronista “desce até as entranhas de uma Lisboa sórdida e miserável, e nos faz assistir a uma procissão de mendigos, prostitutas e rufiões”. O autor, dando início ao que seria uma noite de profusas sensações, ávido pelo passeio na cidade, afirma: “Não vou nem de trem, nem de carro electrico, vou a pé. Lisboa, à noite, arde, scintilla, fulgura”. (RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p.55.)
O cronista nota que o momento escolhido pelos lisboetas para gozar a cidade é a noite e que a cidade, apesar do clima frio e chuvoso do momento dessa passagem, é viva e intensa também nas enluaradas horas e que as fronteiras entre as camadas sociais ficam embaçadas diante do frenesi que toma conta das ruas.
Além da beleza vista no estonteante movimento das multidões, o interesse pelas opções culturais chamam a atenção do autor, que, também dramaturgo, tem interesse particular pelos teatros portugueses.
Se entrarmos nos theatros, em qualquer delles, […] o facto é que o publico vai, interessa-se, discute, está alegre, anima a cidade à noite, pois, ao acabar dos espectaculos, o movimento recresce, e são as ceias, a alegria das calçadas, o mesmo rumor, com pregões de cautellas de loterias e de jornaes até 3 horas da manhã, até 4 horas, em que tabacarias ainda estão abertas e ainda se discute e conversa.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p.58-59.)
Teatro S. Carlos, 1916. FONTE: Arquivo Municipal de Lisboa.
Tabacaria Havaneza, 1913, fotografia de Joshua Benoliel. FONTE: Arquivo Municipal de Lisboa.
O apelo sexual, a relação simbiótica entre cidade e flâneur, atinge, também na noite, seu ápice. Contudo, não são só as belezas e a alegria que atraem João do Rio. O próprio autor diz “Eu sempre tive como principio de que só são realmente interessantes os ricos e os miseraveis”, portanto, a cena que encerra, de fato, sua deambulação tem um afastamento do sublime.
Na passagem o autor, voltando de seu passeio, encontra uma mulher mendicante com seu filho, que recebe seu dinheiro e volta a chamar sua atenção. O autor, vendo no gesto um exagero de importunação, é surpreendido pelo desejo da mulher de devolver o valor excedente recebido. O gesto de honestidade, vindo de alguém de uma camada tão necessitada da sociedade, sensibiliza João do Rio.
Que dizer, Deus misericordioso, dessa alma infeliz na invernia da madrugada, capaz de tamanha pureza e tamanha honestidade? Fiz então um gesto largo, e segui. Mas a alegria morrera no meu coração com a imagem dessa misera inaudita, que restituia, a desmaiar de fome aquillo que não julgava seu…
Era por uma sinistra madrugada. A chuva caia forte. Não havia ninguem no Rocio. E nunca mais esquecerei aquella figura maltrapilha com o braço estendido, restituindo em lagrymas o que talvez representasse para ella um resto de noite a coberto com o pobre recemnascisdo.
(RIO, João do. Portugal d’agora. Rio de Janeiro: Garnier, 1911, p 74-75.)
A cidade expunha, portanto, não só suas graças e regozijo. Não eram só as alegrias e festividades que alimentavam o espírito apaixonado de João do Rio. A miséria e a crueldade, afastadas das mesas de debate político intenso características da obra, têm a mesma importância para o olhar crítico do autor. Este anticlímax, logo após um momento de êxtase, encerra o passeio de João do Rio pela noite em Lisboa e também toda a primeira parte do livro Portugal d’agora.
Lêdo Ivo diz que João do Rio andando é um flâneur e, parado, é um voyeur. A utilização do termo que é hoje empregado para um fetiche sexual é clínica ao perceber não só a paixão pelo caminho, mas também a intensidade característica das observações apaixonadas do autor, que trata a cidade como uma mulher sedutora, que o encanta e o conduz por suas ruas tortuosas, com contradições e maravilhas. O efeito da cidade sobre João do Rio reflete em um sentimento melancólico na despedida nessa primeira viagem: “É possível deixar terra olente assim, sem um grande sentimento de saudade? Eu fiquei em tão pouco tempo querendo bem a cada uma das pessoas que vira, a cada arvore que olhara, a cada estrada por que passara”, fazendo com que o autor retorne à Lisboa apenas dois anos depois.
A escolha dos verbos de relação com Lisboa (olhar e passar) demonstra que suas características de voyeur e flâneur foram fundamentais para a construção de seu vínculo com a cidade e seu fazer jornalístico na mesma, reproduzindo sua ação simbiótica com a cidade do Rio de Janeiro. Sua despedida de Portugal é também um exemplo de importância de sua atividade para si mesmo. A deambulação por Lisboa, que antecede a visita de Paulo Barreto a eminentes intelectuais portugueses, numa segunda parte do livro Portugal d’agora, reafirma a intenção do autor de aprofundar e incentivar as relações luso-brasileiras, tendo como exemplo de resultado a fundação da Revista Atlântida.