O conceito de paisagem: percepção e temporalidade

O conceito de paisagem: percepção e temporalidade

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O conceito de paisagem: percepção e temporalidade

O texto Lima Barreto de bonde pelo Rio: Paisagem e memória, escrito por Carmem Negreiros, destaca a abordagem diversificada da paisagem em dois aspectos: o primeiro, a importância da memória do observador, e o segundo, as relações do sujeito com a cultura urbana. Por meio de um passeio de bonde, Lima Barreto descreve a paisagem da cidade do Rio de Janeiro como podemos ver no trecho a seguir: “O bonde ia agora atravessando os Arcos. Sob a luz de um dia brumoso, encoberto, um dia pardo, a cidade se estendia irregular e triste. Bondes, carros, transeuntes passavam por debaixo da arcaria secular. Escachoavam, marulhavam, rodomoinhavam, como as águas de um rio. As casas eram vistas pelos fundos e os passageiros entravam um pouco na vida íntima dos seus habitantes[…]” (BARRETO, p. 95-96).  A cidade é percebida de maneira descontínua pelo sujeito, por meio de seus sentidos: a visão, a audição, o tato e o olfato. A paisagem que é descrita pelo autor mescla o passado e o presente e se traduz pela subjetividade do autor. Além disso, uma sensibilidade impressionista contamina a perspectiva do olhar do protagonista sobre a cidade, influenciando a sua observação.

Sugestões temáticas:
  • Discussão do conceito de paisagem
  • Reflexão sobre as formas de perceber a paisagem através dos sentidos humanos
  • Debate sobre a influência da subjetividade na percepção da paisagem
Possíveis linhas de abordagem:
  • Geografia fenomenológica que leva em consideração a subjetividade (valores, experiências individuais) na observação da paisagem.
  • A importância dos sentidos humanos (visão, olfato, etc) para a percepção da paisagem
  • A importância da memória na representação da paisagem e sua relação com o presente
Abordagens literárias:

Eis a sinopse: “no início do século XX, o Brasil e o Rio de Janeiro tiveram em Lima Barreto um de seus principais cronistas. O grande escritor brasileiro, autor de O Triste Fim de Policarpo Quaresma, viveu em um tempo em que muitas mudanças ocorreram na cidade. Em suas crônicas, comentou a Reforma Pereira Passos, a construção do novo porto, o começo da expansão do Rio para a Zona Sul e outras transformações. Lima Barreto foi um dos primeiros a exaltar os bairros do subúrbio. Sua obra é um registro apaixonado do Rio feito por um carioca da gema”.

Após assistirem ao programa, propor a leitura de crônicas, contos e/ou romances de Lima Barreto para analisar algumas características da obra tais como a forte crítica social, a linguagem coloquial, e o interesse pelo cotidiano carioca.

  • A região central do Rio e o subúrbio:

“Certas manhãs quando desço de bonde para o centro da cidade, naquelas manhãs em que, no dizer do poeta, um arcanjo se levanta de dentro de nós; quando desço do subúrbio em que resido há quinze anos, vou vendo pelo longo caminho de mais de dez quilômetros, as escolas públicas povoadas. (trecho da crônica “tenho esperança que”. In: Bagatelas, 1923)

Como é sabido, Lima Barreto explorou bastante, em sua obra, a região central e o subúrbio carioca. A partir de uma abordagem de ensino e de aprendizagem crítico social, sugerimos a leitura e análise de algumas crônicas que evocam o cotidiano desses espaços tais como “tenho esperança que” (in: Bagatelas/1923), e o “Os enterros de Inhaúma” (in: Feiras e mafuás, 26-8-1922).

  • A visualidade:

Eu via nitidamente as cousas e elas penetraram em mim até ao âmago.

LIMA BARRETO. In: Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1990

Como bem pontuou Carmem Negreiros, a experiência da paisagem e a do olhar associada à perspectiva psicológica e subjetiva são características importantes na obra de Lima Barreto. Por essa via, a partir dos trechos destacados de romances tais como Numa e Ninfa e Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, sugerimos uma proposta de atividade que priorize a identificação das descrições de paisagens naturais e urbanas visando identificar abordagens e perspectivas diversificadas do espaço paisagístico.

Sugestões para seminários e debate:
  1. leitura e análise de crônicas de Lima Barreto por grupos de alunos da classe.
  2. Pesquisa e apresentação da vida e da obra de Lima Barreto e de suas relações com a cidade do Rio de Janeiro.
PARA AMPLIAR:

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Agradecemos ao artista plástico Gabriel AV as fotos de Covilhã.