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Judith Teixeira

Filha de Francisco dos Reis Ramos e Maria do Carmo, nasceu em Viseu em 25 de janeiro 1880, na Viela de São Francisco. Morreu em 1959 no dia 17 de maio, em Lisboa. Foi registrada como filha de pai incógnito, sendo os avós maternos José Filipe e Maria Rosa. A perfilhação só acontecerá anos mais tarde, a 26 de novembro de 1907, por Francisco dos Reis Ramos, alferes da infantaria, quando a escritora, aos 28 anos, já residia em Lisboa. Entre os treze e os quatorze anos, em 1894, já produzira seus primeiros versos. Depois, entre 1918 e 1919, assinado o pseudônimo Lena de Valois, publica no Jornal da Tarde, pequenos textos em prosa. Casou-se duas vezes, primeiro com Jaime Levy Azancot, divorciando-se em 8 de Março de 1913, acusada pelo seu marido de adultério e abandono de domicílio, para em 22 de Abril de 1914 casar-se com o advogado Álvaro Virgílio de Franco Teixeira, de quem adota o sobrenome/apelido, período em que reside no Buçaco. Contudo, é só a partir de 1922, portanto aos 42 anos, que Judith escreveu a maioria dos poemas das suas primeiras obras: Decadência (1923) e Castelo de Sombras (1923). Vale ressaltar que Judith Teixeira viveu numa época de mudanças dos paradigmas sociais impostos às mulheres, mas, mesmo assim, não conseguiu fugir do generalizado conservadorismo público, que vai repudiar sua obra (Decadência), juntamente com as de Raul Leal (Sodoma Divinizada) e António Botto (Canções), por apresentarem uma “literatura homossexual” ou “sodomita”, sendo seus livros recolhidos das livrarias, dando início a mais uma polêmica na literatura portuguesa. Tais fatos ocorreram em fevereiro de 1923, quando o Governador Civil de Lisboa, instigado por estudantes católicos conservadores, ordena o recolhimento de tais obras. Essa polêmica é uma das mais indigestas no meio literário e acadêmico português: obras literárias baseadas no discurso homoérotico masculino/feminino vêm chocar drasticamente um país católico como Portugal. Por isso, surgiram frequentes críticas com caráter repressivo, mesmo com o passar dos anos, tais como o artigo de Marcelo Caetano, militante conservador, que se dizia contra a falta de vigilância na sociedade portuguesa e que publica, no periódico Nova Ordem, um texto intitulado “Arte sem nenhuma moral”, mostrando-se indignado contra o novo tipo de literatura produzida no país. Não é à toa que Fernando Pessoa sai em defesa dessa nova literatura, expressando a sua posição contra a falta de liberdade artística, citando, entretanto, com afinco, apenas os trabalhos de António Botto e Raul Leal. 

Judith Teixeira produz, realmente, uma poesia de caráter erótico e sensual, com contornos do lesbianismo, contudo, com um certo pesar, ou culpa, presente no discurso do sujeito lírico. Teixeira ainda publica Nua. Poemas de Bizâncio (1926), uma conferência intitulada De mim. Conferência. Em que se explicam as minhas razões sobre a vida, sobre a Estética, sobre a Moral e, por fim, seu único livro em prosa, Satânia. Novelas (1927). A escritora ainda dirigiu a Revista Europa (1925) – de que saíram apenas três volumes – periódico que contou com produções de autores como Florbela Espanca, Ferreira de Castro, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, entre outros. Colaborou, ainda em 1922, na Contemporânea, com direção de José Pacheco, bem como no Diário de Lisboa e em outros jornais e revistas. Recentemente Cláudia Pazos Alonso e Fabio Mario da Silva reeditaram sua obra, publicando inéditos de poemas e uma conferência-manifesto intitulada “Da Saudade”, em Poesia e Prosa, pela Dom Quixote, Lisboa, 2015.

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Agradecemos ao artista plástico Gabriel AV as fotos de Covilhã.