Rio de Janeiro e São Paulo pelo olhar de Joaquim Paço d’Arcos
Rio de Janeiro e São Paulo pelo olhar de
Joaquim Paço d’Arcos
PAÇO D’ARCOS, Joaquim. Amôres e viagens de Pedro Manuel.
5a ed. São Paulo: Clube do Livro, 1953. p. 150 – 151
Rio de Janeiro e São Paulo são hoje as duas maiores cidades do Brasil. Enquanto a primeira está intimamente relacionada com a natureza, com suas praias e floresta nas montanhas, a segunda é fortemente marcada pela urbanização, com muitos prédios e arranha-céus que impedem a visão do horizonte. Como elas seriam vistas pelos imigrantes que chegavam aqui no final da década de 1920?
Joaquim Paço d’Arcos (1908-1979), romancista português, possui dois livros ambientados no Brasil. Ambos contam a história do mesmo personagem. O primeiro, Amores e viagens de Pedro Manuel, publicado em 1935, contém uma série de novelas sobre a vida de Pedro Manuel, personagem cosmopolita, que navegou por várias regiões do mundo. A terceira parte dessa coletânea narra a viagem desse personagem ao Rio de Janeiro. No ano seguinte, Paço d’Arcos publica Diário dum emigrante, romance em forma de diário relatando a experiência do mesmo Pedro Manuel, que emigrara de Portugal para ser antiquário em São Paulo no período entre 1928 e 1930. A leitura de alguns trechos dessas obras permite notar como é patente a diferença de relação que esse personagem estabelece com as duas cidades brasileiras.
Na terceira parte de Amores e Viagens de Pedro Manuel, intitulada “Amores de Gaúcha”, a narrativa começa com o protagonista Pedro Manuel deixando para trás o Rio de Janeiro. Observando o litoral a partir do navio, a impressão que se tem é de uma cidade maravilhosa, praticamente um sonho. À noite, o contraste das luzes com a escuridão da montanha faz com que a imagem do Cristo Redentor pareça flutuar no céu, como um milagre. O personagem sente a esperança de um recomeço abençoado por uma paisagem que se assemelha a um altar iluminado nas trevas da noite:
PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Amôres e viagens de Pedro Manuel. 5a ed. São Paulo: Clube do Livro, 1953. p. 150 – 151.
PAÇO D’ARCOS, Joaquim. Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 21.
Pedro Manuel logo parte para São Paulo, uma cidade que crescia em população e que tinha uma economia ascendente, perfeita para iniciar seu negócio. Para ele, a metrópole paulista não o deslumbra como a carioca:PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 22
PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 29.
PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 218.
PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 200-201
Copacabana é uma praia extensa, em meia lua, orgulho desta terra e destas gentes. É de fato, como tudo aqui em volta, dádiva generosa da natureza, bem aproveitada pelos cariocas. Fui lá tomar banho à tarde e, à noite, com uma pequena, Nahir, bailar num cabaret[…]
Voltamos para S. Paulo. De dia, no trabalho, à noite, nesta cidade sem graça, tenho saudades do Rio, das avenidas largas, das suas praias, do marulhar constante da vaga, do calor dos corpos sensuais…
PAÇO D’ARCOS, Joaquim.
Diario dum emigrante. 2a ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1941. p. 28.