O Bom-Crioulo

O Bom-Crioulo de

Adolfo Caminha

O Bom-Crioulo, de  Adolfo Caminha, é um romance de contrastes no vaivém carioca.

Aleixo era uma terra perdida que ele devia reconquistar fosse como fosse

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 124.

Rio de Janeiro, por volta de 1870. A mesma capital do Império que sediava luxuosos bailes e espetáculos teatrais era também o destino dos milhares de africanos escravizados ilegalmente. O contraste não é contraditório, visto que a fonte de tamanha ostentação imperial era a economia de base escravocrata. Riqueza e escravidão, àquela altura, tornaram-se elementos indissociáveis da formação nacional brasileira. A distância entre livres e cativos raramente foi diminuída pelas dinâmicas do trabalho assalariado, mas não impediu que um ponto no mapa aproximasse mundos tão opostos. Sobre as mesmas águas tranquilas da Baía de Guanabara, navegaram membros da corte e trabalhadores de diversos ramos; quase todos imigrantes, subsidiados ou sequestrados. É nesse espaço-tempo de encontros distanciados que se passa a ousada trama escrita por Adolfo Caminha e publicada em 1895.

Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles (circa 1890)

O olhar do autor volta-se a um passado até então recente. Cerca de vinte anos antes da primeira edição do livro, Pedro II ainda era imperador e a República não passava de uma possibilidade no vasto horizonte de expectativas que se formava no cenário político nacional. Naqueles anos de declínio e queda do Império, que ambientam a história contada por Caminha, Amaro e Aleixo vivem um romance entre o alto-mar e as ruas do centro carioca. Ambos integram a Marinha do Brasil, instituição centenária, onde as relações homossexuais eram mais comuns do que o leitor conservador poderia imaginar.

Amaro, mais conhecido como Bom-Crioulo, é um homem, negro e liberto, na faixa dos 30 anos, descrito como “uma dessas organizações privilegiadas que trazem no corpo a sobranceira resistência do bronze e que esmagam com o peso dos músculos”. O perfil apresenta uma personalidade dividida entre a boa índole – que justifica o apelido –, e o instinto supostamente violento de sua raça, segundo o pensamento racista dominante no século XIX, também adotado pelo autor.

Aleixo, por sua vez, é um grumete, branco e livre, de aproximadamente quinze anos. O “belo marinheiro de olhos azuis” nasceu em Santa Catarina no seio de uma “pobre família de pescadores”. Seus traços adolescentes chamam a atenção do Bom-Crioulo, rapidamente atraído por essa aura alegre e ingênua de Ganimedes.

Apesar da condição de pobreza em comum, Amaro e Aleixo conviviam com um abismo intransponível: a diferença da cor de pele, outro contraste fundacional da sociedade brasileira, também capturado pela pena naturalista de Adolfo Caminha.

Alguns elementos do enredo desse livro se misturam com a vida pessoal do autor. Adolfo Ferreira Caminha nasceu em Aracati, no Ceará, em 1867, e morou boa parte de sua vida na cidade do Rio de Janeiro, onde morreu em 1897. O cenário carioca lhe era, portanto, bastante familiar, o que se manifesta nas referências detalhadas da Baía de Guanabara e das ruas do centro da cidade, entremeadas na ficção. A morte desse jovem de vinte e nove anos foi causada pela tuberculose, doença que acometeu sua geração e que aparece, de certa forma, representada na saúde frágil do personagem-título. Aos dezesseis anos de idade, Caminha ingressou na Escola Naval, a mesma em que seus personagens principais se graduaram. É possível que a experiência como embarcado tenha inspirado as páginas desse romance, ainda que por ressonância, pois não há indícios biográficos de que o autor tenha se relacionado com outros homens. A propósito, sua vida amorosa foi marcada por uma sequência de atribulações, das quais se destaca o relacionamento que manteve com a esposa de um oficial do Exército brasileiro.

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles (circa 1880)

No enredo, o desejo reprimido de liberdade é o que movimenta o protagonista. Aos dezoito anos, Bom-Crioulo, até então escravizado numa fazenda de café, decide fugir. Torna-se, no mar, um homem livre. Outro contraste se forma aos olhos do leitor quando “fazenda” e “mar” simbolizam, respectivamente, aprisionamento e emancipação.

O medo que ele sentia de voltar à antiga rotina de trabalhos forçados no meio rural não era injustificado, visto que a escravidão estruturava economicamente aquela sociedade e os processos de reescravização eram bastante comuns na época.

À medida que se afasta da fortaleza – última fronteira da terra firme –, recuada à direita, em primeiro plano, Bom-Crioulo vai encontrando uma calmaria de sensações nunca antes experimentadas. A linha do horizonte, retilínea e tranquila, se contrapõe à agitação do mar, que arrebenta vorazmente nas pedras da encosta. O movimento das águas parece espelhar a sua condição mais íntima, de quem encontra na distância o caminho desejado.

No mesmo dia foi para a fortaleza, e, assim que a embarcação largou do cais a um impulso forte, o novo homem do mar sentiu pela primeira vez toda a alma vibrar de uma maneira extraordinária, como se lhe houvessem injetado no sangue de africano a frescura deliciosa de um fluido misterioso. A liberdade entrava-lhe pelos olhos, pelos ouvidos, pelas narinas, por todos os poros, enfim, como a própria alma da luz, do som, do odor e de todas as cousas etéreas… sobretudo o ambiente largo e iluminado da baía: enfim, todo o conjunto da paisagem comunicava-lhe uma sensação tão forte de liberdade e vida, que até lhe vinha vontade de chorar, mas de chorar francamente, abertamente, na presença dos outros, como se estivesse enlouquecendo…

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 38 (grifos meus).

Não há paisagem sem sujeito e o Narrador entende essa premissa. Por si só, o espaço da Baía de Guanabara jamais significaria liberdade, não fosse a presença humana a lhe atribuir tal sentido. É a memória recente do cativeiro que ativa o contraste sensorial e nos permite sentir, com o personagem, a luz, o som, o odor “e todas as coisas etéreas” do homem livre. A experiência conjunta e algo sinestésica do sujeito rodeado pelas águas se dá por meio da linguagem, ferramenta da comunicação sem a qual o pensamento permaneceria íntimo, solitário, no mesmo lugar do choro de alívio que o Bom-Crioulo decide conter para não assustar os demais. Ao fim e ao cabo, toda a experiência permanece individual.

Esse primeiro contato com a liberdade, entretanto, não é absoluto. O estigma, uma vez impingido ao Bom-Crioulo pela cor de sua pele, o acompanha também na vida de marinheiro. Os trabalhos forçados e os castigos físicos a que era submetido, bem mais rigorosos que os de seus colegas brancos, revelam o racismo que dá origem à Marinha do Brasil. A denúncia encampada por Adolfo Caminha nas páginas sanguinolentas do romance parece capturar o espírito de indignação que culminaria, anos mais tarde, na Revolta da Chibata. Uma coincidência não deve passar despercebida pelo olhar do leitor mais atento: o ano de publicação do romance (1895) é o mesmo do alistamento de João Cândido Felisberto. Caminha morreu antes de presenciar os acontecimentos que suspenderiam a rotina da capital carioca, não sem deixar o legado de suas letras, que já apontavam o caminho incontornável de sangue, se pavimentado pela violência institucional.

A chibata, instrumento de tortura citado exatas 15 vezes ao longo do romance, causa tanta dor física e moral ao Bom-Crioulo que, passado algum tempo após o primeiro contato com o mar, ele enxerga semelhança entre a Marinha e o cativeiro. Ainda assim, voltar à fazenda seria um contraste muito maior e, por isso, impensável. Afinal, até mesmo a escravidão, instituição nefasta por natureza, permitia que sujeitos escravizados adotassem estratégias de sobrevivência a partir das gradações da violência. Entre o mar e a fazenda, Bom-Crioulo optou pelo primeiro. Do mesmo modo, muitas famílias afrodescendentes, submetidas aos violentos cafezais brasileiros, temiam o ainda mais violento Deep South americano – casos lamentáveis em que a noção de “menos ruim” faz sentido na prática.

Apesar de tudo, tamanha é a liberdade encontrada no mar que, ali, Bom-Crioulo e Aleixo se permitem viver uma noite de prazer. A paixão arrebatadora que o mais velho sente pelo efebo se consuma numa maca à proa do navio, lugar possível e nada ideal. Nem o tempo frio impede uma calorosa aproximação entre os dois, que, muito embora apaixonados, jamais abandonariam o fardo da culpa que sentiam. É o efeito da heteronormatividade e da branquitude; sistemas que, entrelaçados, sufocam esse relacionamento proibido entre um negro e um branco. Naquela noite, o caráter delituoso do ato lhes impõe uma dose de urgência misturada com euforia. A pressa com que Aleixo murmura ao ouvido do amante precede a volta que (ainda hoje) muitos homens precisam dar para amar dentro e fora da cama.

– Ande logo! murmurou apressadamente, voltando-se. E consumou-se o delito contra a natureza.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 57 (grifos meu).

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles (circa 1885)

Uma bela manhã de sol sucede aquela noite. Aos poucos, a paisagem ganha novos contornos na transição gradual do mar para a terra. Sobre as mesmas águas da Guanabara, agora tranquilas como as de uma lagoa, Bom-Crioulo se depara com novos empecilhos à sua já condicionada liberdade. A fortaleza concretiza o passado, à esquerda, de onde o caminho convencional do olhar segue a linha do horizonte até chegar na fina camada de areia branca da praia. A rocha humana, geométrica, mistura-se à do Pão de Açúcar, curvilínea, esculpida pelo mesmo vento que atravessa os poros do sujeito observador. A olho nu, o espaço permanece inalterado; o que mudou foi a perspectiva, espelho literal daquela bonança que só os apaixonados entendem. O ponto de retorno, entretanto, não é exatamente o mesmo da origem. Já se passaram alguns bons anos desde a fuga do cativeiro e o nosso protagonista, agora acompanhado, apresenta ao grumete os principais pontos daquela paisagem urbana que vai se desvelando no ritmo das ondas que conduzem à praia. Seu tom é um tanto professoral:

Lá estava bem defronte, por bombordo, o Pão d’Açúcar, talhado a pique, sombrio, íngreme, batido pelas ondas, guardando a entrada; e mais longe, para o sul – termo final de uma espécie de cordilheira primitiva e bronca – cocuruto da Gávea, cinzento, dominando o mar… E foi indicando, um a um, com exclamações de patriotismo, os acidentes da entrada, os edifícios: as fortalezas de S. João no alto, e de Santa Cruz à beira-mar, olhando-se com a sua artilheria (sic) muda; a Praia Vermelha, entre morros; o hospício; Botafogo… Tudo aquilo, dizia ele abarcando, com um gesto largo, morros e casas, tudo aquilo é a cidade de Niterói, ouviste falar?
– Não…”
– Pois é ali.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 59-60 (grifos meus).

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles (circa 1880)

Os elementos daquela paisagem tipicamente carioca, cartão-postal do mundo, anunciam o desembarque tão esperado do menino Aleixo, que pisaria na capital pela primeira vez. Antes de desvirginá-lo, pela segunda vez, Bom-Crioulo precisa atravessar um velho conhecido portal: o cais Pharoux (atual estação das barcas Rio-Niterói). Movimentado, o lugar torna-se palco das suas brigas, notoriamente conhecidas pelos habituais pedestres das redondezas. Esse entre-lugar, próprio da natureza fronteiriça de um cais, funciona como um novo ponto de encontro do sujeito com a terra. Não se trata mais do cafezal de outrora, cujo horizonte – rural, pacato e violento – contrasta com a paisagem urbana – dinâmica e não menos violenta.

Georges Leuzinger/Acervo Instituto Moreira Salles, 1865

É nesse mesmo lugar do cais que a paisagem descrita por Caminha foge ao modelo pictural na medida em que prefere o dinamismo das ações humanas ao das edificações urbanas ou das condições meteorológicas. Os sons barulhentos que emergem da movimentação naquele porto carioca – mais um contraste com o silêncio contemplativo da baía –, são despersonalizados ao ponto de formarem um todo amorfo, que parece mesmo uma extensão do pensamento aflito do protagonista, tal qual a linha do horizonte fotografado, onde o Pão de Açúcar, à direita, se mistura a

uma multidão de escaleres e lanchas conduzindo oficiais de marinha e senhoras, que acenavam para bordo – aqueles em uniforme de ‘visita’, espada e luva branca, afetando autoridade, aprumando-se no paineiro (sic) com essa desenvoltura natural dos homens do mar; aquelas em toilettes de verão, muito rubras de sol.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 62.

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles, 1890

A dimensão psicológica da paisagem reforça a presença indispensável do sujeito. O barulho do cais apenas anuncia a aglomeração urbana que se formava naquele final de século. Na cidade, destino inescapável do Bom-Crioulo, para onde ele parece voltar invariavelmente até o fim de sua vida, o outrora imenso vazio do mar assume o pano de fundo, tímido, mas sempre na linha do horizonte. Outros elementos passam a compor a paisagem que condiciona os personagens, dos quais se destaca o clima quente do verão, bem diferente do vento frio que embalou aquela noite em alto-mar. Dona Carolina – “que não se podia com o calor de dezembro!” – é outro elemento, humano, próprio da paisagem urbana. Mulher portuguesa, dona de uma pousada no centro, é uma antiga conhecida do Bom-Crioulo; figura decisiva para toda essa trama que, somente nas ruas, começa a se desenrolar.

(…) ao mesmo tempo que seu espírito voltava-se (sic) todo para o sobradinho da Rua da Misericórdia, onde àquela hora D. Carolina encharcava-se num magnífico banho frio de chuveiro.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 84 (grifos meus).

O observador agora está na rua da Misericórdia. Aquele emaranhando horizontal de casarões e ruas estreitas retrata o espírito urbano da segunda metade do século XIX, época em que os jornais impressos passaram a ocupar um papel central na comunicação da única metrópole brasileira até então. É bem verdade que essa comunicação ficava restrita aos pouquíssimos leitores, em sua maioria, brancos e homens, cerca de 0,08% da população total, segundo dados obtidos pelo censo de 1870. O Brasil, afinal, era um país de não-leitores; retrato da desigualdade sociorracial de uma nação fundada no regime escravocrata essencialmente patriarcal. Considerando esse contexto, os casos criminais eram um sucesso entre aquele seleto público e ficavam registrados nas folhas dos periódicos. O espaço dedicado aos inquéritos e aos processos criminais cresceu nos editorais que passaram a prestigiar os faits divers, seduzindo seus leitores para acontecimentos macabros.

Tudo indica que D. Carolina seja uma consumidora assídua dessas páginas soturnas. A certa altura, um pensamento seu apronta o leitor do romance para o destino dos personagens. Uma sensação generalizada de medo, causada pelos crimes cometidos nas ruas da cidade, toma conta do ambiente, quando

Assaltaram-lhe ideias horrorosas de crimes, homicídios, de sangue; relembrava casos que tinham alvoroçado o Rio de Janeiro, casos de ciúme, de traições… Na Rua do Senhor dos Passos um sargento esfaqueara uma pobre “mulher da vida”; encontrara-a com outro… A polícia correu ao lugar do sinistro, mas o assassino, como era noite, evadira-se, deixando o cadáver da rapariga crivado de golpes, rubro de sangue. Lembrava-se também de outro caso medonho; fora na Rua dos Arcos: o assassino cortara a mulher em bocados como se esquarteja uma rês.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo.
Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 115 (grifos meus).

Sem revelar o motivo do suspense que ronda as ruas cariocas no final do livro, a formação da paisagem urbana permite algumas conclusões. De um modo geral, naquelas que talvez sejam as páginas mais pungentes do Naturalismo brasileiro, a sina do Bom-Crioulo não permite ilusões: a liberdade do mar, que preenche os primeiros capítulos com uma esperança luminosa, é passageira e encontra na terra firme seu contraste mais sombrio. As ondas não vêm mais do balanço das águas, mas da turba de pedestres. O vaivém das águas ressoa no movimento pendular dos seres humanos, indiferentes. A última volta do Bom-Crioulo é o cumprimento do seu destino, coerente com a narrativa naturalista que faz seu autor reconhecido até os dias de hoje. Para todos os lados da cidade, a pena pessimista de Caminha desenha o romance como um lugar metafórico, não raramente inalcançável.

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Nome usualmente atribuído aos animais de quatro patas que servem à alimentação humana.

Em tradução livre do francês, significa “fatos diversos”. Eram seções dos jornais, muito populares, em que se noticiavam acontecimentos do cotidiano, usualmente relacionados aos crimes cometidos nas ruas da cidade.

CHALHOUB, Sidney. População e sociedade. In: A construção nacional: 1830-1889 (Org. José Murilo de Carvalho). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 46.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 115.

Pequeno barco, movido a remo, a vela ou a motor, usado para transporte e outros serviços de um navio ou repartição marítima.

Rapaz jovem; mancebo.

Região formada pelos estados na parte mais ao sul e leste dos Estados Unidos, nomeadamente Geórgia, Alabama, Carolina do Sul, Louisiana e Mississippi. Durante a escravidão nos EUA, essa região ficou conhecida pela extrema violência aplicada aos escravizados no cultivo do algodão.

Líder da Revolta da Chibata, morreu miserável em 1969. Seu apelido “Almirante negro” inspirou canção composta por Aldir Blanc e João Bosco, censurada durante a ditadura militar. Em 2024, uma tentativa de inclui-lo no Livro de Heróis da Pátria foi recusada pelo Congresso Nacional a pedido do comandante Marcos Olsen.

Rebelião ocorrida na Marinha brasileira, entre 22 e 27 de novembro de 1910, em protesto contra os castigos físicos dos quais os militares de baixa patente eram vítimas. A punição com chibatadas foi finalmente extinta, mas quase todos os amotinados acabaram presos, mortos ou mandados para seringais na Amazônia.

COLLOT, Michel. Poética e filosofia da paisagem. Rio de Janeiro: Editora Oficina Raquel, 2013, p. 94.

Fenômeno político-jurídico que se intensificou no último quarto do século XIX, quando senhores de terras entravam na justiça para reivindicar o direito de propriedade sobre seres humanos, fugidos ou não.

Cf. GRINBERG, Keila. Reescravização, direitos e justiças no Brasil do século XIX. Almanack brasiliense, n. 6, nov. 2007.

Movimento da literatura brasileira marcado por narrativas deterministas, nas quais o destino dos personagens é definido por elementos como o meio, a raça e a época em que vivem. Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul Pompeia e o próprio Adolfo Caminha foram um dos seus principais autores.

Príncipe de Troia, raptado por Zeus, para servir aos deuses do Olimpo. Na mitologia, simboliza a homossexualidade, em certa medida naturalizada na Grécia Antiga, especialmente na relação entre rapazes e homens mais velhos.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 44.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 42.

Marinheiro iniciante na armada.

No século XIX, a Ciência baseava-se com frequência em premissas racistas. A escola italiana de Criminologia da época, por exemplo, relacionava fenótipos ao cometimento de crimes. Esse pensamento foi bem recebido por parte considerável da elite intelectual brasileira, decidida a “resolver” a questão do negro, sobretudo pós-Abolição.

CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. Rio de Janeiro: Artium, 1997 (1ª Ed. 1895), p. 33.

Prática confirmada por historiadores a partir dos, assim chamados, casos de “sodomia” julgados pela corte militar entre 1861 e 1908. Cf. BEATTIE, Peter apud GREEN, James. Os prazeres nos parques do Rio de Janeiro na belle époque brasileira, 1898-1914. In: Além do carnaval. A homossexualidade masculina no Brasil do século XX; São Paulo: UNESP, 2000, p. 76.

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020, p. 59.

Antes da Lei Áurea (1888), a Convenção de 1826 e a Lei de 7 de novembro de 1831 já consideravam ilegal a escravidão no país e foi evocada por importantes defensores do Abolicionismo da época, como Antonio Rebouças e Luiz Gama.

Agradecemos ao artista plástico Gabriel AV as fotos de Covilhã.