A Rainha vai nua: a cidade da Covilhã despida por Ferreira de Castro
A Rainha vai nua: a cidade da Covilhã despida por
Ferreira de Castro
CASTRO, Ferreira de. A lã e a neve. 15.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 1990. p. 239-240.
Se existisse uma versão mais extensa do texto da música “Covilhã Cidade Neve”, possivelmente seria o mesmo romance de Ferreira de Castro, cujo título A lã e a neve logo evoca dois elementos que são profundamente ligados à cidade. Porém, o autor português retratou no seu romance uma Covilhã que, contrariamente às idílicas imagens da cidade que seriam cantadas algumas décadas mais tarde, apresentava uma realidade, em muitos aspetos, desoladora.
Olhando para a situação atual, apesar da Covilhã ter sofrido durante o decorrer dos anos algumas alterações, é impressionante de como a maioria das paisagens urbanas d’A lã e a neve sigam inalteradas, não deixando, portanto, os seguintes excertos de serem um espelho da realidade que a cidade apresenta hoje em dia:
CASTRO, Ferreira de. A lã e a neve. 15.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 1990. p. 297.
No ano de 1999, José Hermano Saraiva tinha profetizado que, se a Covilhã e os dois concelhos próximos – de Fundão e de Belmonte – continuassem a seguir o mesmo ritmo de crescimento que ele observara naquela altura, nasceria no interior de Portugal, ao cabo de vinte anos, “uma enorme mancha urbana”; e que – apesar de Saraiva acreditar que esses três municípios nunca se juntariam entre eles, devido ao orgulho bairrista que carateriza as terras da Beira Baixa – a tal mancha acabaria por transformar-se, ao lado de Lisboa e do Porto, no terceiro maior aglomerado urbano de Portugal. Porém, a Covilhã continua a ser, de momento, uma cidade de dimensões relativamente reduzidas, onde a maioria das pessoas conhece umas às outras, mantendo apenas o seu caráter bairrista.
Se bem que a Covilhã, ao longo da sua história, tenha construído grande parte da própria fama encima da tradicional ligação que o povo que a habita possui com a pastorícia e a tecelagem, hoje o panorama está radicalmente mudado: com efeito, a Rainha das Beiras teve que colocar de lado o cajado e o novelo para se dedicar ao estudo. A Universidade da Beira Interior (UBI) representa, atualmente, um importante ponto de apoio sobre o qual a Covilhã depositou as próprias esperanças para prevenir um possível esvaziamento da cidade; pois, se tivermos em consideração o facto que a maioria dos lanifícios já encerrou há décadas e que se a Universidade de Beira Interior deixasse hipoteticamente de existir, com toda probabilidade, a Covilhã seria hoje esquecida do mapa de Portugal e do mundo.
Essas considerações foram levantadas apenas para colocar quem está a ler na condição de saber qual é, efetivamente, a situação corrente na Covilhã. Entretanto, para continuarmos com o nosso paralelismo entre a condição atual da cidade e os excertos retirados do romance de Ferreira de Castro, é necessário colocar-se na ótica de, adaptando o conteúdo do enredo à realidade da Covilhã de hoje em dia, imaginar que os que foram no romance os operários fabris sejam os estudantes universitários no tempo presente:
CASTRO, Ferreira de. A lã e a neve. 15.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 1990. p. 296.
Covilhã em 2017 – “Onde nós dormimos” (Gabriel AV)
CASTRO, Ferreira de. A lã e a neve. 15.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 1900. p. 291.
CASTRO, Ferreira de. A lã e a neve. 15.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 1990. p. 297.
Riccardo Cocchi
Com fotografias de Gabriel AV