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Um percurso pela paisagem carioca de Caetano Veloso

Um percurso pela paisagem carioca de

Caetano Veloso

Cana doce, Santo Amaro
Gosto muito raro
Trago em mim por ti
E uma estrela sempre a luzir
Bonde da Trilhos Urbanos
Vão passando os anos
E eu não te perdi
Meu trabalho é te traduzir
Os versos de “Trilhos urbanos” (Cinema transcendental, 1979) dizem muito do gesto artístico de Caetano Veloso. De fato, o trabalho de traduzir Santo Amaro perpassa a obra do cancionista nascido em Santo Amaro, cidade do Recôncavo Baiano, região de clima tropical e de solo fértil na plantação de cana-de-açúcar, localizada a 72 km de Salvador, capital da Bahia. Ao longo dos anos encontramos muitas referências a seu lugar de nascimento, mesmo quando descreve sua cidade de adoção: o Rio de Janeiro. E é de carona neste bonde sonoro, mnemônico e interiorano que Caetano faz a ponte Bahia-Rio, paisagens-espelhos, dois cais. Nosso passeio pela paisagem carioca caetânica começa no subúrbio, Guadalupe, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, outrora parque industrial, hoje comercial. Na canção “Meu Rio” (Noites do norte, 2000) temos o Caetano Veloso que aos treze anos de idade (1955) vai para o Rio de Janeiro e passa um tempo no bairro. Destaca-se o coreto de Quintino Bocaiuva, outro bairro da Zona Norte, mais conhecido apenas como Quintino, em homenagem ao grande líder republicano, “entrevisto do passar do trem”, elemento também da paisagem santamarense.
Coreto de Quintino/RJ
A canção “Meu Rio” trabalha com a espacialização da voz que fala (Caetano Emanuel Viana Teles Veloso) por trás da voz que canta (Caetano Veloso) traduzindo Santo Amaro, ou melhor, plasmando Santo Amaro por onde for; ora perto, ora longe e por fim dentro da favela do Muquiço, localizada no bairro de Guadalupe. O sujeito da canção recorda o tempo de ainda menino quando já compreendia as diferenças sociais, pois ele, perto da favela, experimentava a cidade, do “gosto de Sustincau” (bebida achocolatada) ao “balé no Municipal”, referindo-se ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Theatro Municipal do Rio de Janeiro
O sujeito da canção “Meu Rio” parece recordar a história como passageiro de um trem das cores de sua memória, unindo-se aos imigrantes do norte-nordeste – “baianos, paraenses e pernambucanos”, evoca – que vieram para o Rio de Janeiro em busca de sucesso. “Guadalupe em mim é Fundação [onde a cidade começa para ele, onde está a favela do Muquiço] / Solidão / Maracanã / Samba-canção / Sem pai nem mãe / Sem nada meu / Meu Rio”. Mas dizer que Guadalupe é Fundação recupera também a história do lugar, pois o bairro foi criado como um dos projetos da Fundação da Casa Popular, do presidente Getúlio Vargas. O nome foi sugerido pela esposa de Vargas, em homenagem à padroeira da América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe. Para Caetano, Fundação é bairro, é fundamento, é onde o Rio nasce para ele. Noutro movimento, dentro da “mesma memória”, o sujeito se afasta do subúrbio indo em direção ao mar, deixando para trás o “ar morno pardo parado”, verso cuja repetição do som “ar” intensifica a sensação sufocante do sujeito que se deslumbra com a visão e a brisa de um “mar pérola verde onda de cetim frio”. Agora, longe de Guadalupe, ele entra em contato com o “bom do som” citando João Gilberto e Antonio Carlos Jobim. Aliás, merece destaque a fresta intertextual que “Meu Rio” engendra com a canção “Samba do avião”, de Tom Jobim: “Rio teu mar, praias sem fim / Rio você foi feito pra mim // Este samba é só porque / Rio eu gosto de você” .
O Rio é uma cidade ligada a um gosto próprio. Ao contrário de São Paulo, que é uma cidade universalizante, o Rio tem o hábito de ter o seu próprio espírito, porque tem uma tradição: está ligada à Bahia, ao Nordeste, por laços culturais que não morreram, que lá se desenvolveram e se mantiveram, mudando para uma cidade grande; está ligada, mesmo por folclore, a todo o nascimento desses ramos minguados da cultura brasileira, o samba etc.
FONSECA, Heber. Caetano, esse cara. Rio de Janeiro: Revan, 1993,

Interessante observar que, diferente do Rio, São Paulo não reflete a Bahia. “Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto / É que Narciso acha feio o que não é espelho / E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho”, canta o sujeito caetânico de “Sampa” (Muito – Dentro da estrela azulada, 1978).

Ainda em “Meu Rio”, os versos “O teu carnaval é um vapor luzidio” e “Mangueira no coração” guardam a chave de entrada do paradoxo que a cidade é. Aliás, as referências ao Morro da Mangueira, localizado na Zona Norte da cidade, fazendo fronteira com o estádio de futebol Maracanã, sempre estiveram na paisagem sonora do cancionista.

Bate bolas da Favela do Muquiço/RJ

Mas é em 1994 que esta relação amorosa recíproca se acentua, quando o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira homenageou Caetano Veloso e os outros três Doces bárbaros – Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa – com o samba-enredo: “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”. No mesmo ano, Caetano lança num disco da cantora Alcione a canção “Onde o Rio é mais baiano” (Brasil de Oliveira da silva do samba). A canção que também foi gravada por Maria Bethânia (Maria Bethânia ao vivo, 1995) e pelo próprio autor (Livro, 1997) tem versos importantes para nossa viagem: “A Bahia / Estação primeira do Brasil / Ao ver a Mangueira / Nela inteira se viu / Exibiu-se sua face verdadeira”.

Na letra, Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida, 1854-1924) é metonímia das matriarcas baianas responsáveis por “trazerem o samba pro Rio”. Nessa fé na festa de “Onde o Rio é mais baiano”, José Bispo Clementino dos Santos, mais conhecido como Jamelão (1913-2008), tem papel fundamental, tendo sido a voz dos samba-enredos da Mangueira por anos; e presença marcante na Festa de Iemanjá – divindade de religião de matriz africana, considerada a mãe das águas e celebrada no dia dois de fevereiro, na praia do Rio Vermelho, bairro da cidade de Salvador-BA. Atentemos ao trânsito de significantes entre Ciata-Jamelão, Bahia-Rio, espelhos cuja convergência é a Mangueira, escola de samba e estação importante para o trem carioca de Caetano Veloso.

Festa de Iemanjá, Salvador-BA
Dos subúrbios, da Zona Norte, chegamos ao centro da cidade, à Pequena África, região do Rio de Janeiro que ficava entre a zona portuária e o bairro da Cidade Nova.
Região da Pequena África, Rio de Janeiro-RJ

É no Centro que está a Lapa, cantada na canção “Lapa” (Zii e zie, 2009) como espaço idílico, vértice que reúne a zona norte e a zona sul: “cool e popular”, “pobre e requintado”, onde a “PUC [referência a Pontifícia Universidade Católica] e a gíria dos bandidos”, “Lula e FH”, ex-presidentes Luís Inácio da Silva e Fernando Henrique Cardoso, emblemas de polos sociais opostos, podem circular e conviver. “Tudo vinha desaguar na Lapa / Lapa / Minha inspiração”, canta o sujeito que tem a Lapa como a musa do Rio possível. E a relação espelhar Bahia-Rio é reafirmada: “Pelourinho [lugar onde os escravizados eram castigados] vezes Rio é Lapa”, canta Caetano. Novamente a ponte, o trânsito imagético, o cruzamento paisagístico e a relação espelhar entre as cidades.

Da Lapa, a bordo de um “automóvel que parece voar” chegamos à “Paisagem útil” (Caetano Veloso, 1968), onde o Aterro do Flamengo e o bairro da Glória, na região central da cidade, flutuam no ar “no alto do céu do Rio”. O título da canção inverte e desmente “Inútil Paisagem”, composição de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Se nesta temos um sujeito que renega a paisagem onde não vê a amada – “Pra que tanto céu / Pra que tanto mar / De que serve esta onda que quebra / E o vento da tarde / De que serve a tarde”; na canção de Caetano a paisagem, onde “uma lua oval da Esso / comove e ilumina o beijo / dos pobres, tristes, felizes / corações amantes”, é travessia para o cinema, o teatro e trabalho. E os altíssimos postes de luz são um “frio palmeiral de cimento” no Aterro carioca, contrastando com as “palmas altas / mandam um vento a mim / assim Caymmi” da soteropolitana Itapuã, lugar cantado na canção “Itapuã” (Circuladô, 1991).

Postes do Aterro do Flamengo/RJ
Daqui deslizamos até à mítica Baía de Guanabara, para a visão do Pão de Açúcar, na praia de Botafogo, “com suas arestas insuspeitadas”. O trabalho de traduzir Santo Amaro segue: “aqui começo a construir sempre buscando o belo e o Amaro”, diz o sujeito de “O estrangeiro” (Estrangeiro, 1989). Aqui Caetano passa em revista as imagens da cidade. A partir das interpretações do pintor Paul Gauguin, do compositor Cole Porter e do antropólogo Claude Lévi-Strauss, citados nominalmente, Caetano solapa a imagem da cidade cristalizada em sua memória e pergunta: “E eu, menos a conhecera, mais a amara? / Sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela / O que é uma coisa bela?”. Assim, se “o amor é cego”, ele afirma que sua relação com a cidade é de amor. Diferente da relação revelada pelo pintor, pelo compositor e pelo antropólogo. A paisagem é estranhada e perspectivizada pelo sujeito da canção. “O que ameaça e o que é promessa?”, perguntará Caetano noutra canção sobre o Rio. O que é óbvio e o que é exótico na paisagem ora cristalizada, ora movente da cidade? Seja como for, o sujeito caetânico sempre está implicado à imagem cantada: “E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento / Sigo mais sozinho caminhando contra o vento / E entendo o centro do que estão dizendo / (…) / E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo / E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo”.
Morro do Pão de Açúcar/RJ

Entramos na Zona Sul carioca pela Praia do Leme cantada em “Branquinha” (Estrangeiro, 1989), canção dedicada a Paula Lavigne, mulher e empresária de Caetano Veloso: “Branquinha / Carioca de luz própria, luz / Só minha / Quando todos os seus rosas nus / Todinha / Carnação da canção que compus / (…) / Rainha / De janeiro, do Rio, do onde é / Sozinha / Mão no leme, pé no furacão / Meu irmão / Neste mundo vão”.

Chegamos à praia de “Copacabana da melancolia” (da canção “Ia”, Noites do Norte), talvez a praia mais famosa do país, localizada na Zona Sul da cidade, também aparece no cancioneiro de Caetano em “Copacabana / Copacabana / Louca total e completamente louca” (“Joia”, disco Joia, 1975); e onde “turistas ingleses [são] assaltados”, em “Americanos” (Circuladô vivo, 1992). Ainda em “Americanos” temos o sujeito apontando: “Viados americanos trazem o vírus da aids / Para o Rio no carnaval / Viados organizados de São Francisco conseguem / Controlar a propagação do mal”. O carnaval “vapor luzidio” do Rio caetânico agora é veneno-remédio do paradoxo brasileiro.

Agora chegamos à praia que, fazendo fronteira com Copacabana, é ícone da vida carioca: Ipanema, presente em “Tropicália” (Caetano Veloso, 1968): “Viva Iracema-ma-ma / Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma / Viva Iracema-ma-ma / Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma”. A relação espelhar com Iracema, mito fundador de certa visão do Brasil oitocentista, anuncia que Ipanema é o signo do país na segunda metade do século XX. Tanto é assim que se falava numa doença geracional chamada “ipanemia”, modelo cultural-existencial, ethos carioca que Caetano apresentou numa coluna no jornal Pasquim (14 de janeiro de 1970).

Os sintomas da ipanemia estão presentes também em “Tempo de estio” (Muito – Dentro da estrela azulada, 1978): “É o amor / É o calor / A cor da vida / É o verão / Meu coração / É a cidade // Rio, eu quero / Suas meninas”. A cultura alternativa se inscreve e se vive nas areias de Ipanema, que no começo dos anos 1970 abrigava um píer frequentado pelo pessoal da contracultura.

Dunas do barato, Ipanema/RJ
…) Um sol. Pois é. Acho que tudo começou num dia de sol, quando Gal saiu de sua casa na Farme de Amoedo em direção à praia e resolveu estender sua toalha e sua plástica bem em cima de um monte de areia, uma duna, ao lado do píer de Ipanema. Pronto. A crème de la crème da lisergia tropical se apinhou a sua volta, fervendo, a festa já preparada, estava lançado o point mais badalado dos anos 70, o auge da contracultura : as dunas da Gal ou as dunas do barato ou, para os mais íntimos, o morro da Gal. Ainda bem que ela escolheu Ipanema. Tivesse escolhido a praia de Ramos, nós estávamos fritos. Já imaginaram aquela turma de calção e cabelão e frutas e discos e livros e ideias e slogans e palavras de ordem e colares, horas dentro de um ônibus? Não ia dar certo. Ou ia.
SIMÃO, Zé. “Dunas da Gal”. (30/06/2005)
Praia de Ipanema/RJ

Essa geração ipanêmica em transe aparece também na canção “Cinema novo, com Gilberto Gil (Tropicália 2, 1993): “E a Terra entrou em transe / E no sertão de Ipanema / Em transe no mar de Monte Santo / E a luz do nosso canto e as vozes do poema / Necessitaram transformar-se tanto / Que o samba quis dizer: “eu sou cinema””; e na antológica “Menino do rio” (Cinema transcendental, 1979), dedicada a um surfista famoso na época, o Peti, muso inspirador de um jeito de corpo carioca, “Tensão flutuante do Rio” e que faz o Havaí ser aqui.

Em “Sem cais”, em parceria com Pedro Sá (Zii e Zie, 2009), o sujeito caetânico “cata colo” e deita na areia da(s) praia(s) das zonas Oeste e Sul da cidade: “Barra, Gávea e Arpoador / Deuses brancos de luz do mar / Deuses negros um esplendor / Quem é essa e o que será?”. Mas é no Leblon, o bairro da Zona Sul mais nobre da cidade, que ele permanece mais e reside. Em “O quereres” (Velô, 1984) ele diz “Onde queres Leblon sou Pernambuco”; em “Fora da ordem” (Circuladô) – “Estou de pé em cima do monte de imundo lixo baiano / Cuspo chicletes do ódio no esgoto exposto do Leblon / Mas retribuo a piscadela do garoto de frete do Trianon / Eu sei o que é bom”; e em “Haiti”, com Gilberto Gil (Tropicália 2, 1993) – “E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual / Notar um homem mijando na esquina da rua / Sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”. O foco está no canal-esgoto-lixo exposto, nas contradições do bairro que tem uma taxa altíssima de desigualdade social: ricos muito ricos e miseráveis.

O bairro aparece também no título de duas canções: “Falso Leblon” (Zii e Zie) e “As camélias do quilombo do Leblon”, parceria com Gilberto Gil (Dois amigos, um século de música, 2015). Na primeira temos o sujeito entre entorpecentes que ele recusa (“Ecstasy, bala, balada / E me chama depois / Pra dar uma e dar dois”); questionamentos (“E depois de amanhã? / O que faremos do Rio / Quando enriquecendo / Passarmos a dar as cartas / As coordenadas / De um mundo melhor”); sons (os músicos “Francisco Alves / Seu Jorge, os Hermanos”) e solidão: “Me sinto muito sozinho / (…) / Quem sou eu?”, dialogando com a voz de “Lapa”: “Só eu / Eu sozinho, só e solitário / Sob a chuva da Bahia”. Destaque-se a paisagem chuvosa nas duas canções. Diferente dos dias solares cristalizados no imaginário do Rio de Janeiro turístico.

Na segunda canção, “As camélias do quilombo do Leblon”, mais esperançoso e em tom messiânico, o sujeito conta a história antes do bairro se tornar o signo do modo zonasulista carioca de ser. O desejo é que o passado quilombola seja reconstituído: “As camélias da segunda abolição virão”. “Capoeiras das ruas do Rio”, Caetano e Gil se enunciam partícipes da “guarda negra da redentora”, perguntam e respondem: “O que fazer / Chegando aqui? / As camélias do Quilombo do Leblon / Brandir”. O Quilombo da canção existiu no final do século XIX; na chácara onde eram cultivadas as camélias símbolo do movimento abolicionista e flor preferida da princesa Isabel, a “redentora” da canção.

Um Leblon bem distante do que se vê hoje. Um Leblon que certamente abrigaria melhor Macabéa e o sujeito caetânico santamarense suburbano de “Meu Rio”. Convoco a personagem de Clarice Lispector para encerrar conosco o passeio porque é inspirado pelo livro A hora da estrela (1977) que Caetano compõe “O nome da cidade” para a irmã Maria Bethânia cantar no show em homenagem à obra clariciana: “Onde será que isso começa / A correnteza sem paragem / O viajar de uma viagem / A outra viagem que não cessa / Cheguei ao nome da cidade / Não à cidade mesma, espessa / Rio que não é rio: imagens / Essa cidade me atravessa”, canta o sujeito da canção.

Gravada por Maria Bethânia em A beira e o mar (1984), “O nome da cidade” tem o retirante como tópico central. Tópico que Caetano usara entre trocadilhos na canção “Épico” (Araçá azul, 1973): “Sinto calor, sinto frio / Nor-destino no Brasil? / Vivo entre São Paulo e Rio / Porque não posso chorar”; e, como vimos, em “Meu Rio” – “Baianos, paraenses e pernambucanos”.

As dúvidas (“Será que tudo me interessa? / Cada coisa é demais e tantas / Quais eram minhas esperanças? / O que é ameaça e o que é promessa?”); os riscos (“Meninos maus, mulheres nuas”, que, note-se, retorna em “Meu Rio” como eixos da paisagem: “Rapazes maus, moças nuas”); e o fracasso (“Cheguei ao nome da cidade / Não à cidade mesma, espessa / Rio que não é rio: imagens / Essa cidade me atravessa”) estão traçados.

Nesta canção não há uma cidade Rio definida, pronta, e sim uma movência de imagens que faz o sujeito da canção chegar ao nome da cidade, nunca à cidade em si. O aboio “Ôôôôôôô ê boi! ê bus!” mescla rural e urbano, antigo e presente, arcaico e civilizado, palmas de Itapuã e “frio palmeiral de cimento”, Amaro e Leblon: plasma uma cidade da expectativa e da presença, da ameaça e da promessa. O jogo sonoro “boi bus” anima a historiografia da cidade cantada: do povo (e seus projetos de futuro) que ergueu a megalópole: vida de gado na mobilidade via ônibus, ou trem, ou avião, ou bonde [“da Trilhos urbanos”]. Em geral, melancólico, apontando o sertão que está em toda parte, o sofrimento do nor-destino (assim, partido) que vê o padecimento da promessa de felicidade.

Em “O nome da cidade” aparece o desejo que o sujeito tem de confrontar o sofrimento da cidade, do Rio cantado (“Letras demais, tudo mentindo”) e do Rio que ele experimenta (“Ruas voando sobre ruas”). Enquanto o bossanovista Tom Jobim canta “Da janela vê-se o Corcovado / O Redentor que lindo”, o sujeito caetânico entoa “O Redentor, que horror! Que lindo!”. O Rio parece ser mais e melhor nas “letras demais”, na TV. Aqui a voz se mistura com o espaço espesso, assim como a história do menino santamarense se mistura, se espalha, nas canções de Caetano Veloso e seu Rio de Janeiro. Um Rio no qual “A gente chega sem chegar / Não há meada, é só o fio”. A cidade atravessa Caetano, “igual, sem fim, minha terra / passava dentro de mim” (“Onde eu nasci passa um rio”, Domingo, 1967); e é atravessada pelo traço do poeta: “hoje eu sei que o mundo é grande / e o mar de ondas se faz / mas nasceu junto com o rio / o canto que eu canto mais”, canta o santamarense acolhido em Guadalupe. Do rio (Subaé, de Santo Amaro) ao Rio (de Janeiro), imagens da travessia “infinitivamente pessoal”, do “errante navegante, sozinho, só e solitário”.

Leonardo Davino de Oliveira
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Link para ouvir a canção:
https://www.youtube.com/watch?v=a7dqB6ooD8c
Mais informações:
Festa de Iemanjá
Onde ouvir:
dos EUA onde as lutas por direito às identidades sexuais começaram a se organizar.
Gíria sinônimo de homossexual.
Onde ouvir:
Onde ouvir:
Onde ouvir:
Onde ouvir:
Posto de combustível cujo cartaz luminoso parecia uma lua artificial suspensa sobre o Aterro do Flamengo.

Link para ouvir:

Link para ouvir a música:
Jornal de resistência contra a ditadura cívico-militar brasileira, circulou de 1969 a 1991.
Link para ouvir a canção: https://www.youtube.com/watch?v=5zKmrSk1FbY
Link para ouvir o samba:
Link com mapa, indicando essa região para o leitor entender a região:
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regiao-nordeste.htm
Link para ouvir a canção:
https://www.youtube.com/watch?v=WEhELmRFI5E
Iracema é personagem central da literatura romântica brasileira, símbolo de nacionalidade.
Onde ouvir:
Rio que banha a cidade natal de Caetano Veloso
Uma das maravilhas do mundo moderno. Cartão postal do Rio de Janeiro.
Empresa de bondes da cidade natal de Caetano Veloso.
Conjunto de palmeiras, árvore símbolo do Brasil romântico.
Quem migra para as grandes cidades em busca de sobrevivência.
Onde ouvir:
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

Protagonista do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector.

Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, apelidada de “a Redentora”, foi a segunda filha, a primeira menina, do imperador Pedro II do Brasil e sua esposa a imperatriz Teresa Cristina das Duas Sicílias.
Arte marcial, esporte, cultura popular, dança e música de origem africana.
Lugar onde os escravizados se refugiavam quando conseguiam fugir.
Droga ilícita.
Rua do bairro de Ipanema.
Onde ouvir:
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Parque urbano situado no centro da cidade de São Paulo.
Goma de mascar.
Onde ouvir:
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Onde ouvir:
Praia da Zona Norte da cidade.
A elite intelectual e artística.
Local de encontro de artistas, intelectuais e juventude em geral.
Agradecemos ao artista plástico Gabriel AV as fotos de Covilhã.